Kynoah, o Poeta Itinerante

13 de julho de 2006
LEIAM... texto do site Texto Vivo!!!

Ótimo!!!

Kynoah, o Poeta Itinerante

Gustavo Abdel Massih *

Aura do dia

A última quinta-feira de agosto já estava chegando ao fim e a sensação de mais um dia cumprido era estampada na feição daqueles que insistiam em beber a última cerveja com seus amigos, antes de encontrar o conforto do lar e reencontrar as suas esposas, já deitadas ou prontas para dormirem. Os garçons estavam afoitos para empilharem as mesas de aço, encaixotar as garrafas e encerrar o serviço da cozinha. Faziam de tudo para atrapalhar as longas conversas típicas após quase três horas de bebedeiras e filosofias inúteis. Porém, sempre irá existir aquele mais chegado dos garçons ou do próprio dono do local que conseguem duas, três ao até cinco “saideras” para se contentarem e irem embora, escorando nas grades dos arranha-céus da orla santista.

Mas enfim, eram 22h30 e a noite não dava sinais de que alguma coisa de novo seria avistada, a não ser um gato fuçando a lata de lixo em frente ao bar ou uma freada brusca de algum estressado voltando pra casa. Acredito que quando o bar do Dudão se esvazia antes das 22h, numa quinta-feira, algo de bom não está pra acontecer. Mas isso é apenas uma superstição de um jovem que se considera alvo de tudo e de todos! Porém, a verdade é que naquele dia as coisas também não estavam boas para o meu lado sentimental.
Durante a manhã, tive que entrevistar uma mãe que havia perdido o filho num confronto entre policiais e traficantes em uma das favelas santistas. A moça de 37 anos estava enlouquecida dentro do distrito policial, dizendo aos PMs que eram todos assassinos do pequeno Renan de 9 anos – uma cena que me pegou de surpresa logo depois do café da manhã junto a minha intacta família.

À tarde, três lindas jovens paulistanas que se esbaldaram em excesso na bebida alcoólica no Guarujá capotaram o carro do pai de uma delas e as três foram esmagadas nas ferragens. Tenebroso! Sinceramente, duas pautas que me deixaram sem vontade de conversar durante as duas horas que permaneci naquele amistoso e seguro bar.

Acredito que nada é por acaso, verdade! Ainda mais quando se está precisando de um “upgrade” carinhoso de alguém confiante e que nunca nos deixará na mão. Também, devo ficar atento, pois estava sozinho sem nenhuma companhia que se sensibilizasse depois da minha saga sangrenta. Acredito que todos perceberam o meu semblante e foram para o bar do Toninho, também freqüentado pelo pessoal do jornal.

Após despedir-me dos garçons e de Dudão, e preparando-me para descer os dois degraus de mármore que ladeiam o bar, fui surpreendido por um mendigo que se enraizara na minha frente, impedindo a minha passagem.

- Com licença, cavalheiro! Poderia, por obsequio, me conceder alguns minutinhos?- Hã...?
Fiquei sem saber o que fazer e fui logo desviando daquela figura que mais parecia com as descrições do personagem de Vagabundos Iluminados (Kerouac, Jack), Raymond Smith, fazendo pedidos em ruas escuras e embriagado com vinho barato. Saí de lado e apertei o passo para chegar ao meu prédio são e salvo. Mas no décimo ou décimo quinto passo percebo que estou sendo seguido e resolvo olhar para trás. Como já era previsto, ali estava o primeiro homem que havia falado com educação suficiente para merecer a minha atenção e o único que havia acompanhado os meus passos naquele dia. Cedi, deixando o medo de lado, mas nunca perdendo a guarda mental de um boxeador. Percebi, também, que aquele homem negro segurava uma prancheta com folhas A4 brancas como sal, e fiquei mais calmo.

- Pois não. O que o senhor quer?
- Não quero nada que lhe pertença - materialmente falando. Quero apenas lhe servir com uma poesia do tema que o senhor quiser. Escolha o assunto e eu escreverei em menos de um minuto!
- Hum!!! Então gostaria que o senhor fizesse uma poesia sobre a minha aura... Como ela se encontra nesse exato momento!



* Jornalista e pós-graduando em Comunicação Criativa (especialização em “Narrativas da Vida Real”), curso coordenado pelo TextoVivo em Campinas (SP), 2005.

2 comentários:

Anônimo disse...

Hi! Just want to say what a nice site. Bye, see you soon.
»

Anônimo disse...

Olá eu gostaria de saber como surgiu o nome desse blog?
foi inspirado em alguém?
um abraço.