Depois de muito tempo, voltei ao Porão do Rock. Só tudo estava diferente. Deve ser por que este foi totalmente diferente dos anteriores. Geralmente o Porão rolava no estacionamento do Mané Garrincha. Lá tinha mais cara de rock, tinha algo de “O concreto já rachou”.
Meu deixou incomodado o fato de ninguém ser revistado ao entrar no Festival. Milhares de pessoas de preto, Lady Gagas do metal, com bolsa e mochilas poderiam estar com arma ou faca, por que não? Vai ver entrou nenhuma. Porém, entraram garrafas e mais garrafas de vidro, que foram reduzidas num cerol sem cola que cintilavam na grama amassada. Achei curiosa a segurança oferecida. No aniversário de Brasília, aberto a tudo e todos, foram registradas cerca de vinte facadas. Foi no mesmo local e basicamente do mesmo jeito. Por que e para que aprender com o mesmo erro?
Foi apenas no sábado. Queria ver o Eagles of Death Metal, o Sepultura e, se eu aguentasse, o Angra. Acabei que saí antes da metade do show do Eagles, que era primeira grande atração do Festival.
Não lembro os nomes das outras poucas bandas que ouvi, graças a um bloqueio cerebral preventivo. Tirando uma, que infelizmente não consegui esquecer o nome: Elffus. Confesso que estava esperando algo em torno de metal melódico com influência de música celta e letras élficas, baseadas em Tolkien. Mas não. Foi uma banda de posers, misturando garage rock com hard e pinceladas de trash. Quando subiram ao palco, o som de abertura não foi ruim. Mas aí, chegou o vocalista. Ah, o vocalista, criatura cada vez mais rara na selva de riffs. Alguns dizem que está extinta. Outros, que se escondeu com o Pé-grande ou com Monstro do Lago Ness.
E foi mais ou menos a partir daí que comecei a ficar muito incomodado. Não era só o som, eram as pessoas. Fiquei triste vendo o que estava acontecendo com o rock. Sempre falei que o rock não está morrendo. Que ele está apenas confinado em garagens pelo mundo, esperando uma brecha para chutar o traseiro do conformismo e da monotonia. E ainda acredito nisso. Só que parece que há, principalmente em Brasília, uma vontade de minimizar e destruir o rock.
Olhava aqueles moleques fazendo merda. Gritando, arrontando, quebrando garrafas, se jogando no chão, rolando, se machucando, bebendo como se a vida deles dependesse disso. Esbarravam em outras pessoas e achavam legal chamar atenção. Faziam questão que todos vissem que estavam bêbados. Ou que não se importam com a lei. Não basta ser roqueiro, tem que escancarar.
Fiquei pensando o quanto eu gosto de rock. O quanto eu queria viver de música. Mas ao mesmo tempo, pensava: “se for para ter esses pequenos animais no meu show, prefiro não tocar”. É incrível como um festival de rock me deixou menos roqueiro!
Na verdade não é bem isso. Percebi que amo o rock. Gosto de samba, jazz, blues, música clássica etc. Mas é o rock que faz o sangue pulsar mais forte! Mas não é possível que o maior estilo musical do mundo esteja reduzido àquelas pessoas. Não pode ser.
Sumiu a essência. Ficou a imagem de quartos destruídos, vômitos asfixiantes e pulos de telhados. O rock deixou de ser um ideal, a trilha sonora de uma causa, para se tornam uma razão bastarda para ser um idiota. Mensagem? No palco e na platéia. E dá-lhe o cowboy from hell estereotipado da Elffus falando mal do senado. E dá-lhe moleques diferentes dos demais e iguais entre si, virando paladinos dos direitos políticos e sociais, empunhando dedos médios afiados para o centro político do Brasil. Dá-lhe palavras perdidos no vácuo da vazia nova ideia de ser roqueiro.
Do rock, restou apenas a ressaca. Já disse antes, há tempos Brasília deixou de ser a capital do rock. Nos anos 80, a política está nas letras. A música era o primeiro passo da luta. Posso estar sendo poético demais, já que nunca vi isso. Me dei conta que sou gente apenas em 94. Mas não consigo aceitar que a pureza do rock se converteu nessa idiotice de pessoas que “falam demais por não ter nada a dizer”.
Falta atitude. E não digo de ficar bêbado e sair quebrando portas por aí. Falta a atitude de bancar o que diz para milhares de pessoas. Falta atitude de concordar com o que ouviu e ir atrás do que deve ser feito.
Pode parecer hipocrisia minha, que não costumo encabeçar lutas e protestos. Mas a questão é que eu não me escondo atrás de ideais de outrora, fingindo ser o que não quero ser.
Na perpétua novela global, Malhação, na abertura, há dois roqueiros feitos em computação gráfica. Elas são punks, com cabelos coloridos, roupas rasgadas, e pose de Billy Joe Armstrong e estilo de Jimi Hendrix. A música é da nova onda, um pop-punk certinho, para uma novela politicamente correta, com pessoas super fashion, vazias e irrelevantes. É incrível como essa novelinha pareceu captar, na abertura, para onde o rock está indo.
Sobre o "Pregnancy Brain"
Há 9 anos
4 comentários:
Lindo de viver!
Amei o texto, apesar da triste realidade...
Miss ya, my friend!
bjs
Delícia...porém fico chateada com a realidade que vc vivenciou e com a decepção estampada no seu texto. É realmente uma pena ver despedaçar um movimento musical tão intenso quanto o rock.
Já te falei q venho acompanhando seu blog e tbm já te dei os parabéns ao vivo, mas hj vou deixar registrado :) Ficou, mais uma vez, muito bom! E viva o rock dentro de vc, pq oq vc viu dentro desses "rockeiros" ai tem data de validade...
Adorei: "Do rock, restou apenas a ressaca". Aliás, adorei o texto todo!
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