Desabafo roqueiro...

21 de setembro de 2009
Depois de muito tempo, voltei ao Porão do Rock. Só tudo estava diferente. Deve ser por que este foi totalmente diferente dos anteriores. Geralmente o Porão rolava no estacionamento do Mané Garrincha. Lá tinha mais cara de rock, tinha algo de “O concreto já rachou”.

Meu deixou incomodado o fato de ninguém ser revistado ao entrar no Festival. Milhares de pessoas de preto, Lady Gagas do metal, com bolsa e mochilas poderiam estar com arma ou faca, por que não? Vai ver entrou nenhuma. Porém, entraram garrafas e mais garrafas de vidro, que foram reduzidas num cerol sem cola que cintilavam na grama amassada. Achei curiosa a segurança oferecida. No aniversário de Brasília, aberto a tudo e todos, foram registradas cerca de vinte facadas. Foi no mesmo local e basicamente do mesmo jeito. Por que e para que aprender com o mesmo erro?

Foi apenas no sábado. Queria ver o Eagles of Death Metal, o Sepultura e, se eu aguentasse, o Angra. Acabei que saí antes da metade do show do Eagles, que era primeira grande atração do Festival.

Não lembro os nomes das outras poucas bandas que ouvi, graças a um bloqueio cerebral preventivo. Tirando uma, que infelizmente não consegui esquecer o nome: Elffus. Confesso que estava esperando algo em torno de metal melódico com influência de música celta e letras élficas, baseadas em Tolkien. Mas não. Foi uma banda de posers, misturando garage rock com hard e pinceladas de trash. Quando subiram ao palco, o som de abertura não foi ruim. Mas aí, chegou o vocalista. Ah, o vocalista, criatura cada vez mais rara na selva de riffs. Alguns dizem que está extinta. Outros, que se escondeu com o Pé-grande ou com Monstro do Lago Ness.

E foi mais ou menos a partir daí que comecei a ficar muito incomodado. Não era só o som, eram as pessoas. Fiquei triste vendo o que estava acontecendo com o rock. Sempre falei que o rock não está morrendo. Que ele está apenas confinado em garagens pelo mundo, esperando uma brecha para chutar o traseiro do conformismo e da monotonia. E ainda acredito nisso. Só que parece que há, principalmente em Brasília, uma vontade de minimizar e destruir o rock.

Olhava aqueles moleques fazendo merda. Gritando, arrontando, quebrando garrafas, se jogando no chão, rolando, se machucando, bebendo como se a vida deles dependesse disso. Esbarravam em outras pessoas e achavam legal chamar atenção. Faziam questão que todos vissem que estavam bêbados. Ou que não se importam com a lei. Não basta ser roqueiro, tem que escancarar.

Fiquei pensando o quanto eu gosto de rock. O quanto eu queria viver de música. Mas ao mesmo tempo, pensava: “se for para ter esses pequenos animais no meu show, prefiro não tocar”. É incrível como um festival de rock me deixou menos roqueiro!

Na verdade não é bem isso. Percebi que amo o rock. Gosto de samba, jazz, blues, música clássica etc. Mas é o rock que faz o sangue pulsar mais forte! Mas não é possível que o maior estilo musical do mundo esteja reduzido àquelas pessoas. Não pode ser.

Sumiu a essência. Ficou a imagem de quartos destruídos, vômitos asfixiantes e pulos de telhados. O rock deixou de ser um ideal, a trilha sonora de uma causa, para se tornam uma razão bastarda para ser um idiota. Mensagem? No palco e na platéia. E dá-lhe o cowboy from hell estereotipado da Elffus falando mal do senado. E dá-lhe moleques diferentes dos demais e iguais entre si, virando paladinos dos direitos políticos e sociais, empunhando dedos médios afiados para o centro político do Brasil. Dá-lhe palavras perdidos no vácuo da vazia nova ideia de ser roqueiro.

Do rock, restou apenas a ressaca. Já disse antes, há tempos Brasília deixou de ser a capital do rock. Nos anos 80, a política está nas letras. A música era o primeiro passo da luta. Posso estar sendo poético demais, já que nunca vi isso. Me dei conta que sou gente apenas em 94. Mas não consigo aceitar que a pureza do rock se converteu nessa idiotice de pessoas que “falam demais por não ter nada a dizer”.

Falta atitude. E não digo de ficar bêbado e sair quebrando portas por aí. Falta a atitude de bancar o que diz para milhares de pessoas. Falta atitude de concordar com o que ouviu e ir atrás do que deve ser feito.

Pode parecer hipocrisia minha, que não costumo encabeçar lutas e protestos. Mas a questão é que eu não me escondo atrás de ideais de outrora, fingindo ser o que não quero ser.

Na perpétua novela global, Malhação, na abertura, há dois roqueiros feitos em computação gráfica. Elas são punks, com cabelos coloridos, roupas rasgadas, e pose de Billy Joe Armstrong e estilo de Jimi Hendrix. A música é da nova onda, um pop-punk certinho, para uma novela politicamente correta, com pessoas super fashion, vazias e irrelevantes. É incrível como essa novelinha pareceu captar, na abertura, para onde o rock está indo.

4 comentários:

Erica Abe disse...

Lindo de viver!
Amei o texto, apesar da triste realidade...
Miss ya, my friend!
bjs

Unknown disse...

Delícia...porém fico chateada com a realidade que vc vivenciou e com a decepção estampada no seu texto. É realmente uma pena ver despedaçar um movimento musical tão intenso quanto o rock.

Vitor disse...

Já te falei q venho acompanhando seu blog e tbm já te dei os parabéns ao vivo, mas hj vou deixar registrado :) Ficou, mais uma vez, muito bom! E viva o rock dentro de vc, pq oq vc viu dentro desses "rockeiros" ai tem data de validade...

Unknown disse...

Adorei: "Do rock, restou apenas a ressaca". Aliás, adorei o texto todo!