Não é blá-blá-blá

11 de setembro de 2009
Queria poder assistir antes de comentar algo. É bom escrever enquanto a emoção ainda está na pele, na cabeça e nos olhos. Mas fazer o que?

Acho que monólogos não são muito comuns no cinema. Ou, talvez, eu que não tenha assistido a muitos filmes que tenham. Mas consigo enumerar alguns que eu gosto muito. Por exemplo, adorei, ainda mais na voz de Peter O’Toole, o discurso final de Anton Ego, em Ratatouille (Olha o gênero Pixar, aí!). A voz em sintonia com as belas imagens de França criadas por computador forma um par perfeito para o monólogo final.

Outro que me deixou em êxtase é o discurso em frente ao espelho de Edward Norton, em A última hora, de Spike Lee. O discurso americano preconceituoso que expões as feridas e ódio remanescente de 11 de setembro. Que é hoje, inclusive.Rá! A crítica social, tão comum no filmes de Spike Lee, é quase tátil quando Norton lê e responde ao Fuck You! que estava escrito no banheiro dum pub. Inclusive lembrei de algo que pode atrapalhar a beleza sincera da cena. A cena de Meu nome não é Johnny, quando o cara da prisão, grita: Fóqui iú, fóqui tu fóqui évribari! Hehehehe. Foi mal. Enfim, em linhas tortas, a cena de Norton segue esse padrão. Foda-se o mundo!

Há um belo discurso final no totalmente interpretativo O Último Selo, do falecido Ingmar Bergman. A conclusão do final no discurso da única pessoa pura daquela trupe muda os ares do filme. O ator era o único que via as coisas como realmente são. E viu o que aconteceu com os infiéis, descrentes, pecadores. Um bom filme que ganha beleza ainda maior nas palavras finais emocionadas e artísticas. A cena do jogo de xadrez é a imagem clássica do filme. Porém, é o discurso final que, para mim, coloca a obra de Bergman entre os seletos filmes obrigatórios para se assistir.

Mas não jeito. Nenhum deles conseguiu me fazer sentir tanta coisa ao mesmo tempo do que o impecável monólogo de Chaplin em O Grande Ditador. Magnífico em todos os sentidos, o ator/diretor/produtor/músico/poeta Charles Chaplin passa uma mensagem capaz de levantar qualquer astral. Nela, pode-se recuperar a fé na humanidade. As palavras enchem qualquer de força para lutar. Os olhos não se aguentam com as belas imagens e emoção no rosto simpático do Vagabundo. Os ouvidos ficam aguçados ouvindo toda e qualquer palavra que é dita com embriagante emoção.

O Grande Ditador termina num misto de esperança e orgulho. A esperança vem das palavras de Chaplin (digo de Chaplin pois quando o Vagabundo Carlitos sobe no palanque e começa a falar, não sei como, mas o personagem parece inexistir e tudo que vejo é o ator inglês, apaixonado pela arte, declarar uma ode à humanidade). O orgulho é de poder assistir a algo tão sincero. Só de pensar, já fico feliz.

É isso. Não acho que a cena isolada represente o que deveria. Mas tudo bem. Abaixo, o melhor monólogo da história do cinema!


1 comentários:

Há de ser tudo da lei disse...

Adorei! E quero minha coleção do Chaplin de presente!