A cabeça pensa o dia todo, embora não queira. Está a mil por hora, mas de segunda marcha. Em qualquer momento, POW! Tudo pelos ares. A cabeça está aí, fazendo o que tem fazer, mesmo não querendo.
Essa noite, a cabeça tentou criar um mundo de perfeição. Porém, o único detalhe que separava a perfeição da mesmice. Era o fato da cabeça saber que aquilo não era real. Mesmo assim, tentou. Enquanto estava com suas janelas das almas fechadas, a cabeça criava uma ilusão de música, amigos, filmes e cerveja. Mas não havia como abandonar o real e a cabeça sabia disso.
Estava lá, tudo de bom. Mas o ruim insistia em atrelar-se. E veio o medo de arriscar, a insegurança para falar, a fria sensação da indiferença, o calor do mais puro ódio e algumas lágrimas de saudade, obviamente. E a cabeça a mil, forçando, tentado desligar a realidade, criando imagens belíssimas, aproximando pessoas distantes e aumentando o som até o talo.
Ainda assim, não conseguia. Pois parte da cabeça se obrigava a pensar que as coisas não eram daquele jeito. Que o mundo não funcionava naquela perfeição, que a música nunca seria tão boa e alta, e que pessoas não ficarão juntas para sempre. Maldita cabeça racional, sempre funcionando. A cada dia que passa tomando um pouco mais de lugar da cabeça que sonha.
E então acabou. O motorzinho não agüentava mais. Ele não fundiu, ele explodiu, destroçando e carbonizando os sonhos daquela cabeça, que abria suas janelas para ver que o mundo continuava o mesmo, não adiantando o seu esforço em tentar criar um melhor. As pessoas que com tanto esforço ela juntou, se foram. Nada mais que a cabeça criou, estava lá. E ela sabia que não adiantava tentar, nada mais seria o que foi. Bastava repousar e perceber que, mesmo desejando, ela tomaria outros rumos e, nenhum deles seria aquele que ela queria. Acabou.
Então a cabeça repousou e dormiu. Desistiu de parar de sonhar e aceitou que a realidade é imbatível e implacável. Seja sonhando ou não.
E agora, José?A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu,a noite esfriou,e agora, José?