Pronto, mais do que isso é impossível. O post que se segue é não foi escrito por este que vos digita. O texto foi composto por um jornalista esportivo muito bom: Rica Perrone. Assim como ele anuncia em seu site, não confundir com o Ricardo Perrone da Folha de São Paulo.
Bem, Rica é um jornalista que tem minha admiração. São paulino roxo, Rica não esconde que gosta do Flamengo. Não do time, mas de sua torcida que, sejamos realistas, é algo que merece respeito. Mas não ache que gosto do Perrone por sua paixão à nação rubro-negra. Ele merece respeito por seu jornalismo esportivo. E, também, por ser um bom torcedor.
Futebol é um assunto maravilhoso, com as pessoas certas, claro. Nem sempre é possível deixar a emoção de lado. Da mesma maneira que nem sempre é possível ser somente razão. Infelizmente, não vi o jogo que permitiu ao meu Mengão, duelar mais uma vez com o diminuto novo-vice alvinegro carioca. Creio ter sido um bom jogo.
O diferencial do Perrone é permitir o leitor saber quando ele está sendo jornalista (na grande maioria das vezes), torcedor do São Paulo (algumas) e simpatizante do Mengão (algumas). Isso sem avaliar os bons olhos com o qual ele encara as falcatruas do precário futebol brasileiro, as discrepâncias veladas e ótimas análises táticas.
Ele sabe criticar aquele técnico ou jogador que gosta e sabe elogiar àqueles que ele não admira, tudo na hora certa e com termos corretos. Tudo bem, o português dele não é lá essas coisas, mas o meu também não é, o que não te impediu de ler até aqui. Não creio que seja um empecilho.
Rica escreveu o seguinte texto para o Urublog, o blog do torcedor na página do Flamengo no Globo Esporte, comanda pelo fanático Arthur Muhlenberg. Numa primeira leitura, o texto pode soar como um rubro-negrismo fanático. Ledo engano. O texto expõe, de fato, a imensurável alegria de torcer pelo Maior do Mundo, mas é, na única verdade, uma ode ao futebol:
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Um Domingo Qualquer
Era um dia frio, sem chuva. Seria um dia chato, não fosse o Maracanã lotado e a expectativa de um título. Ele não era fanático, sequer tinha visto o estádio lotado na vida, até então. Tinha 13 anos e torcia, timidamente, para o Palmeiras, apesar de morar no RJ.
Naquele domingo seu pai o levou na final. De bandeira, camisa e ingresso na mão, chegou assustado com a multidão. Entrou faltando 15 minutos pra começar e, quando olhou em volta, disse: “Pai, quantas pessoas tem aqui?!?”.
- Muitas, filho… uma nação inteira, disse o pai.
Aquela multidão explodiu em faixas, bandeiras e papel picado minutos depois. O garotinho se encolheu com medo e sentou. Com 1 minuto de jogo a torcida levantou e não deixou que o guri visse mais nada. Ele ouvia, sentia, mas não assistia.
Seu pai, rubro-negro fanático, não tinha muita esperança de que seu pivete palmeirense um dia se envolvesse com futebol. Jamais mostrou grande interesse, e só torcia porque tinha um amigo que era palmeiras.
O Flamengo saiu ganhando, mas não bastava. Tinha que ser com 2 gols de diferença, ou nada. Seu pai explicou que “faltava um”, e o garotinho não entendeu. Afinal… vitória não é vitória de qualquer jeito?
Sofreu um gol, e ele não tirou sarro do pai como sempre fazia. Ficou triste, como que contagiado pela multidão. O outro lado, 40% do estádio apenas, fazia barulho, e ele ouvia o silencio da nação a sua volta. Segundo ele, o silencio mais dolorido que já escutou na vida.
O Flamengo fez o segundo, e o garotinho, se envolvendo com o jogo, vibrou. Pulou no colo do seu pai e o abraçou como se fosse um legítimo urubuzinho.
Não era, ainda.
A torcida começou a cantar o hino, que ele sabia de cor de tanto ouvir o pai cantar. Pela primeira vez, cantou num estádio, e fez parte da nação. A angustia de milhares não passou em branco. Em mais alguns minutos o garotinho suava e já rezava de mãos grudadas ao peito.
O Flamengo virou, mas não bastava.
40 minutos do segundo tempo. Mesmo com 2×1 no Placar, a nação ouvia gozações do outro lado. Ele não entendia, e fez o pai explicar, mesmo num momento dramático do jogo.
Atencioso, o pai sentou e contou pro garoto que o Flamengo precisava ter 2 gols de vantagem, porque a vitória por um gol empataria a soma de 2 jogos, e o empate era do rival. Ele não entendeu bem, mas simplificou em sua cabeça: “Mais um e ganharemos”.
Opa… “ganharemos”? Ele não era palmeirense?
E então, aos 43 minutos, onde alguns já se mexiam na direção da saída, uma falta do meio da rua. Seu pai vibrou e ele questionou: “O que foi? Foi pênalti!? “
- Quase isso, filho!! Dali pro Pet é pênalti!!, profetizou o pai, ignorando a distancia da falta.
A cobrança… o silencio eterno de 1 segundo e a explosão. Gol do Flamengo! Petkovic!
E seu pai o abraça como nunca abraçou em toda sua vida. Pula, joga o garoto pra cima, beija, chora…
O garotinho, numa mistura de susto com euforia, olha em volta e, de braços abertos, comemora em silencio um gol que não era dele.
Sem razão, ele chora. E chorando, abraça o pai que, preocupado, rompe a alegria e pergunta: O que foi? O que foi? Se machucou?
- Não… Eu to feliz, pai!
Sem mais palavras, o pai sentou e abraçado ao garotinho deu um abraço de tricampeão. O jogo acabou, e os dois continuaram abraçados.
A festa rolando, os dois assistindo a tudo aquilo emocionados, o garotinho absolutamente embasbacado com a cena, já que nunca havia visitado um estádio lotado, muito menos uma decisão. O pai olhava pro campo e pro filho, porque sabia que, talvez, aquele fosse seu único momento na vida onde teria a imagem de seu garoto comemorando um titulo do time dele.
E chorava, sem vergonha nenhuma de quem estivesse em volta.
O menino foi embora pensativo, eufórico. Em casa, contou pra mãe com uma empolgação incomum sobre tudo que viveu naquela tarde. E não falava do jogo, apenas da torcida. Iludido por uma frase, contou pra mãe:
- Aí, no finalzinho, teve um pênalti! E o Flamengo fez o gol…
- Não filho… não foi pênalti! Foi de falta.
- Mas você disse que foi pênalti…
- Era modo de falar…. hahahahahah
- Então, mãe… aí, o cara fez o gol e a gente foi campeão!!!
Pronto. Aquele “a gente” fez o pai parar de colocar cerveja no copo, virar a cabeça lentamente e perguntar, com medo da resposta:
- A gente, filho?
(silencio…)
- É pai! O Mengão!!!!!
Emocionado, o pai abraçou o garoto e não falou nada. Ali, seu maior sonho virava realidade. A mãe entendeu, deixou os dois na cozinha e saiu de fininho, enquanto o pai começava a contar de uma outra final que viveu em mil novecentos e bolinha, com toda a atenção do novo rubro-negro.
Hoje o garoto tem 21, completados há alguns dias.
Quando seu pai perguntou o que ele queria de presente este ano, a resposta foi essa:
- Dois ingressos, uma bandeira, a camisa nova e ver você chorando igual aquele dia.
E há quem diga que “futebol é bobagem”…
Sobre o "Pregnancy Brain"
Há 9 anos
3 comentários:
Poxa, muito legal. Deu pra imaginar a cena direitinho e até levá-la pra um tempo mais adiante, quando essa história poderá se repetir.
Outra coisa, achei a escrita bem parecida com a sua, viu?! Basta só você acreditar mais em si mesmo.
Beijos
Muito legal. Concordo com o comentário acima, pois vc tem uma escrita maravilhosa, e não é opinião de mãe, e sim de alguem que adora ler e aprecia bons textos. Beijo grande, ate domingo.
Excelente!!
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