Me permita ser bem objetivo: Futebol!

20 de abril de 2009
Pronto, mais do que isso é impossível. O post que se segue é não foi escrito por este que vos digita. O texto foi composto por um jornalista esportivo muito bom: Rica Perrone. Assim como ele anuncia em seu site, não confundir com o Ricardo Perrone da Folha de São Paulo.

Bem, Rica é um jornalista que tem minha admiração. São paulino roxo, Rica não esconde que gosta do Flamengo. Não do time, mas de sua torcida que, sejamos realistas, é algo que merece respeito. Mas não ache que gosto do Perrone por sua paixão à nação rubro-negra. Ele merece respeito por seu jornalismo esportivo. E, também, por ser um bom torcedor.

Futebol é um assunto maravilhoso, com as pessoas certas, claro. Nem sempre é possível deixar a emoção de lado. Da mesma maneira que nem sempre é possível ser somente razão. Infelizmente, não vi o jogo que permitiu ao meu Mengão, duelar mais uma vez com o diminuto novo-vice alvinegro carioca. Creio ter sido um bom jogo.

O diferencial do Perrone é permitir o leitor saber quando ele está sendo jornalista (na grande maioria das vezes), torcedor do São Paulo (algumas) e simpatizante do Mengão (algumas). Isso sem avaliar os bons olhos com o qual ele encara as falcatruas do precário futebol brasileiro, as discrepâncias veladas e ótimas análises táticas.

Ele sabe criticar aquele técnico ou jogador que gosta e sabe elogiar àqueles que ele não admira, tudo na hora certa e com termos corretos. Tudo bem, o português dele não é lá essas coisas, mas o meu também não é, o que não te impediu de ler até aqui. Não creio que seja um empecilho.

Rica escreveu o seguinte texto para o Urublog, o blog do torcedor na página do Flamengo no Globo Esporte, comanda pelo fanático Arthur Muhlenberg. Numa primeira leitura, o texto pode soar como um rubro-negrismo fanático. Ledo engano. O texto expõe, de fato, a imensurável alegria de torcer pelo Maior do Mundo, mas é, na única verdade, uma ode ao futebol:


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Um Domingo Qualquer


Era um dia frio, sem chuva. Seria um dia chato, não fosse o Maracanã lotado e a expectativa de um título. Ele não era fanático, sequer tinha visto o estádio lotado na vida, até então. Tinha 13 anos e torcia, timidamente, para o Palmeiras, apesar de morar no RJ.

Naquele domingo seu pai o levou na final. De bandeira, camisa e ingresso na mão, chegou assustado com a multidão. Entrou faltando 15 minutos pra começar e, quando olhou em volta, disse: “Pai, quantas pessoas tem aqui?!?”.

- Muitas, filho… uma nação inteira, disse o pai.

Aquela multidão explodiu em faixas, bandeiras e papel picado minutos depois. O garotinho se encolheu com medo e sentou. Com 1 minuto de jogo a torcida levantou e não deixou que o guri visse mais nada. Ele ouvia, sentia, mas não assistia.

Seu pai, rubro-negro fanático, não tinha muita esperança de que seu pivete palmeirense um dia se envolvesse com futebol. Jamais mostrou grande interesse, e só torcia porque tinha um amigo que era palmeiras.

O Flamengo saiu ganhando, mas não bastava. Tinha que ser com 2 gols de diferença, ou nada. Seu pai explicou que “faltava um”, e o garotinho não entendeu. Afinal… vitória não é vitória de qualquer jeito?

Sofreu um gol, e ele não tirou sarro do pai como sempre fazia. Ficou triste, como que contagiado pela multidão. O outro lado, 40% do estádio apenas, fazia barulho, e ele ouvia o silencio da nação a sua volta. Segundo ele, o silencio mais dolorido que já escutou na vida.

O Flamengo fez o segundo, e o garotinho, se envolvendo com o jogo, vibrou. Pulou no colo do seu pai e o abraçou como se fosse um legítimo urubuzinho.

Não era, ainda.

A torcida começou a cantar o hino, que ele sabia de cor de tanto ouvir o pai cantar. Pela primeira vez, cantou num estádio, e fez parte da nação. A angustia de milhares não passou em branco. Em mais alguns minutos o garotinho suava e já rezava de mãos grudadas ao peito.

O Flamengo virou, mas não bastava.

40 minutos do segundo tempo. Mesmo com 2×1 no Placar, a nação ouvia gozações do outro lado. Ele não entendia, e fez o pai explicar, mesmo num momento dramático do jogo.

Atencioso, o pai sentou e contou pro garoto que o Flamengo precisava ter 2 gols de vantagem, porque a vitória por um gol empataria a soma de 2 jogos, e o empate era do rival. Ele não entendeu bem, mas simplificou em sua cabeça: “Mais um e ganharemos”.
Opa… “ganharemos”? Ele não era palmeirense?

E então, aos 43 minutos, onde alguns já se mexiam na direção da saída, uma falta do meio da rua. Seu pai vibrou e ele questionou: “O que foi? Foi pênalti!? “

- Quase isso, filho!! Dali pro Pet é pênalti!!, profetizou o pai, ignorando a distancia da falta.

A cobrança… o silencio eterno de 1 segundo e a explosão. Gol do Flamengo! Petkovic!

E seu pai o abraça como nunca abraçou em toda sua vida. Pula, joga o garoto pra cima, beija, chora…

O garotinho, numa mistura de susto com euforia, olha em volta e, de braços abertos, comemora em silencio um gol que não era dele.

Sem razão, ele chora. E chorando, abraça o pai que, preocupado, rompe a alegria e pergunta: O que foi? O que foi? Se machucou?

- Não… Eu to feliz, pai!

Sem mais palavras, o pai sentou e abraçado ao garotinho deu um abraço de tricampeão. O jogo acabou, e os dois continuaram abraçados.

A festa rolando, os dois assistindo a tudo aquilo emocionados, o garotinho absolutamente embasbacado com a cena, já que nunca havia visitado um estádio lotado, muito menos uma decisão. O pai olhava pro campo e pro filho, porque sabia que, talvez, aquele fosse seu único momento na vida onde teria a imagem de seu garoto comemorando um titulo do time dele.

E chorava, sem vergonha nenhuma de quem estivesse em volta.

O menino foi embora pensativo, eufórico. Em casa, contou pra mãe com uma empolgação incomum sobre tudo que viveu naquela tarde. E não falava do jogo, apenas da torcida. Iludido por uma frase, contou pra mãe:

- Aí, no finalzinho, teve um pênalti! E o Flamengo fez o gol…
- Não filho… não foi pênalti! Foi de falta.
- Mas você disse que foi pênalti…
- Era modo de falar…. hahahahahah
- Então, mãe… aí, o cara fez o gol e a gente foi campeão!!!

Pronto. Aquele “a gente” fez o pai parar de colocar cerveja no copo, virar a cabeça lentamente e perguntar, com medo da resposta:

- A gente, filho?
(silencio…)
- É pai! O Mengão!!!!!

Emocionado, o pai abraçou o garoto e não falou nada. Ali, seu maior sonho virava realidade. A mãe entendeu, deixou os dois na cozinha e saiu de fininho, enquanto o pai começava a contar de uma outra final que viveu em mil novecentos e bolinha, com toda a atenção do novo rubro-negro.

Hoje o garoto tem 21, completados há alguns dias.

Quando seu pai perguntou o que ele queria de presente este ano, a resposta foi essa:

- Dois ingressos, uma bandeira, a camisa nova e ver você chorando igual aquele dia.

E há quem diga que “futebol é bobagem”…

simple little big things

14 de abril de 2009
Veja bem, eu não sou normal. Ou pelo menos, não quero ser. Por isso, coisas simples e básicas, para mim, tomam uma proporção enorme. Para perceber a minha não-normalidade, posso dar alguns poucos exemplos que, provavelmente, não serão entendidos.

Perder um filme no cinema (Paranoid Android, do Radiohead): Sinédoque, Nova York. A Vanessa sofreu quando esse filme saiu de cartaz.

Uma ligação por engano (Down em mim, do Cazuza): “Ah, foi mal, liguei querendo falar com outra pessoa”.

Parar um ótimo filme pela metade (Fuck this world, do Slipknot): “nada mais presta... nem dormir para ir trabalhar”.

E por aí vai. Exemplos básicos de coisas que podem acabar com aquela coisa boa que eu estava sentindo. Mas não se engane. Se eu me chateio por “besteiras” como essas, outras “besteiras” são capazes de ditar um novo sentimento de alegria. Mais exemplos.

Assistir um bom filme no cinema (So much to say, do Dave Matthews Band): o Lutador; Milk; Trovão Tropical; Sexta-feira 13; Watchmen...

Risadas categóricas e únicas de uma besteira qualquer que foi dita (Intermission, do Tool): Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha. HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Presença (Tiny Dancer, do Elton John). ... ... ...

Pois é. Mais ou menos isso. Coisas simples, pontuadas. Todas elas tomam proporções imensas na cabeça deste que te escreve.

Talvez você não tenha concordado. Ou até entendido muito bem. Ou quem sabe você concordou e chegou ao fato de admitir que também não seja normal. Qualquer uma serve. Mais um exemplo:

Todos os dias, pessoas vem e vão embora de qualquer lugar do mundo. Sempre fugindo da rotina. Hoje, três pessoas voltam à Brasília, de volta para a rotina. Isso é um ato simples, qualquer, corriqueiro e cotidiano. Porém, já tomou uma proporção enorme na cabeça desse fre@k. Eles estão de volta. Não cada um para sua rotina individual. Mas para nossa rotina, extremamente coletiva, de nos encontrar todos os dias, por livre escolha. Uma grandiosa coisa qualquer.

Minha timidez acaba me impedindo de fazer e falar algumas coisas que gostaria. Por isso este texto.

Até!